O entrevistado desta semana é o Marcelo Figueirdo, ele já passou por muitas bandas e tem uma rica história no rock local desde os tempos remotos, atualmente o cara toca na banda The Pivos, na entrevista ele falou muita coisa, muita mesmo, lembrou das várias bandas que tocou e de muita gente. Confira.
Blog CR - Quem é Marcelo na música de Camaçari, defina-se.
Marcelo Figueiredo - Eu sou um cidadão nascido em Camaçari no ano de 1982, mas que na música de Camaçari, como você citou, começo a sair da condição de expectador que ora fugia de casa para assistir o show da Inkoma com Pitty nos vocais no antigo cinema, show lendário inclusive, organizado por Emerson Carlos, que ora fora expulso do meio de uma roda brutal do Bosta Rala por meus pais num evento que aconteceu ao lado do antigo cinema também na década de 90, era a Feprocam, que hoje é realizada com a alcunha de Feira de Empreendedorismo, acredite se quiser, para me tornar também um agente de transformação da cena, quando Danilo Trad, meu amigo querido, ensinou-me no violão do pai dele, um "De Diógines", um Ré Maior (D), um Mi menor (Em) e um Lá (A) e me disse: " Pronto, agora você sabe tocar, cante: Um dia areia branca, seus pés irão tocar e vai molhar seus cabelos, na água azul do mar...". Lembro que nesse mesmo mês de aprendizado, Giba Gilberto, que sempre passava ali na esquina do American Bar, onde ficávamos tocando e bebendo vinho até tarde, voltando do CEFET-Ba, ele fazia um curso técnico de Química lá (...), parou e gritou: " Isso não é rock!! Vocês tem que saber o que é Punk Rocker, Garotos Podres Porra!" e tudo isso sendo observado meticulosamente por Edvaldo Filho, nosso querido Fofo (guitarrista da Declinium).
Ali foi o início da revolução individual e que até hoje reverbera na cena, tudo começa e termina na Gleba A, principalmente a cena rocker de nossa cidade, não tem pra onde correr e não adianta espernear, aqui é o embrião de tudo, pois Emerson Carlos que organizava todos os eventos de rock em Camaçari na década de 90 é da Gleba A, a Ultimatum, primeira banda de rock da cidade da década de 80, fez seu lendário show, também indicado por Emerson Carlos, na Gleba A, na frente do Colégio Mascarenhas, em uma daquelas movimentadas gincanas que agitavam a cidade industrial; conheci André Mangieri da Ultimatum tentando retornar com força na cena, na Gleba A, intimando Fofo para tocar com ele! Confesso que naquele dia fiquei impressionado com aquela vitalidade de André, querendo tocar de tudo, totalmente averso a mansidão de Fofo, que semanas depois me dizia: "É isso aqui é que quero tocar Marcelo, isso é rock", foi quando conheci Oreah e Zé Raimundo no solstício de inverno de 1997, na frente casa de Fofo, na Gleba A, passando as músicas da Declinium, fiquei absorto com aquilo tudo, uma garrafa de Fanta de dois litros, outra de 51, dia frio e chuvoso, aqueles três monstros tocando aquele rock enigmático e cheio de emoção, fui para o curso Pré-CEFET que fazia querendo ficar ali, aprendendo, ouvindo o velho e bom rock in roll.
Ainda para ficar na Gleba A, anos depois já altamente influenciado pelo rock do trio Oreah, Zé Raimundo e Fofo, escrevi Cibernética, música que lançou Eric Mazzone na cena local, pois houve um festival, no camelódromo, que premiou compositores e músicos da cidade, lembro que ficamos revoltados com a organização, pois a família Bessa levou todos os prêmios, enfim, convenci Eric a participar e disse que tinha escrito uma canção que podia dar certo, ele gostou, fez a harmonia e apresentou para Iso, Dão Cia Ltda, os cara também gostaram e Eric está aí até hoje!!! E ainda tem o Circuito Amplificado Alternativo, que organizamos aqui na Gleba A, que considero depois do Atitude o maior evento de rock da cidade!!!
Blog CR - Quantas bandas você já tocou e quais?
Marcelo Figueiredo - Rapaz, acho que ninguém começou e terminou tanta banda quanto eu nessa cidade, agradeço até aos amigos que comigo acreditam e acreditaram que alguma coisa daria certo, mente inquieta demais, acho que era coisa de adolescente, ideias efervescendo e não havia caixa craniana que contivesse aquela agonia pueril...
Eu, Julio César, Danilo Trad e Bogus com a primeira banda que tive, a Dirty Mind, uma coisa muito grunge, muito legal, adorava!!! Eu e Júlio pirávamos com essa história de Guitar Bands, queríamos três guitarras zuando total!! Dela saíram canções que entraram até no repertório da Fábrica, por exemplo a Música Mr. Chaplin. Lembro que em uma apresentação da Dirty Mind, em um dos melhores espaços que tínhamos na cidade no tempo, a extinta Pizzaria Passarela, Bógus escroto não foi, deve ter esquecido, nesse tempo ele só pensava na Anemia, como havíamos ensaiado com a Kamize semanas antes dessa apresentação, Rock Torres pegou a bateria e garantiu nossa apresentação, era uma apresentação de Inglês, da escola que Danilo estudava, como cantávamos em Inglês, caiu como uma luva...
Depois de idas e vindas de Júlio Cesar, formamos a segunda banda, o Abbel e o Pêssego, que tinha eu, Danilo e Júlio, Bógus tocava também na banda só que não sabia... Júlio veio com esse nome de banda com um projeto paralelo que ele havia iniciado com Alisson da Pastel de Miolos, chegando aqui achei fantástico o nome, decidimos manter esse maravilhoso nome: Abbel e o Pêssego (olha que lindo!!) e dar uma outra roupagem no som, Eric Mazzone entrou definitivamente na banda e ficou eu cantando e tocando guitarra, Danilo no baixo e Eric na bateria, fizemos até uma apresentação no Atitude Rock Festival, esparro da porra, tocamos no dia do Metal, mandamos até bem, mas como sempre tivemos problemas com baterista, Eric não foi, Danilo assumiu a bateria e nem lembro quem tocou o baixo nesse dia.
Na terceira banda a coisa começou a ficar séria, veio a Estado de Sítio, Ítalo que era um pré-adolescente, pivetão, ele chegou aqui em casa conversamos e decidimos montar uma banda de HardCore, era a Estado de Sítio, dessa vez eu apenas cantava, ele tocava guitarra, Joenio tocava o baixo e Bógus na bateria, em menos de um mês montamos um repertório e somos a primeira banda de Camaçari a lançar um CD em sua primeira apresentação. Vendemos todos os 7 ou 8 CDs no mesmo dia, aquilo foi um susto para a comunidade rocker reunida no Astrolábio Bar. Tudo na surdina mesmo, desde o ensaio até o lançamento da banda e do CD.
Depois da Estado de Sítio, veio a quarta banda que fiz parte, a Choque Frontal, Joenio saiu da banda, entrou Binho no contra baixo, Ítalo se aprofundou bastante nas diversas tendências do HardCore passou a cantar mais, gravamos um EP, cantei junto com Ítalo, está até disponível na net esse CD até hoje, e eu fui convidado a me retirar da banda, foi uma separação difícil, estávamos juntos há muito tempo, mas não teve jeito, ocorreu a cisão.
Nesse meio tempo formei uma outra banda, a quinta, era a Distúrbio Eletrônico, primeira banda de rock da cidade que misturava elementos eletrônicos com a pegada Rock in Roll, eu na Guitarra e vocais, Ítalo na segunda guitarra, Daniel Quirino nos Computadores, e Eric no contra baixo, fizemos duas apresentações épicas, uma no Circuito Amplificado Alternativo, e outra em Dias Dávila, deixamos todo mundo semi-hipnotizado nessa segunda aparição.
A efemeridade da Distúrbio Eletrônico teve uma importância secundária, me reaproximei (apesar de nunca ter se separado) musicalmente de Italo e nos juntamos novamente com Bogus, claro, para formar a sexta banda, The Pivos.
Nesse meio tempo com a The Pivos; tive também dois projetos paralelos que gostei muito, pois eu estava querendo tocar com gente nova, trocar experiências novas, daí montei a sétima banda, a Anita Malfatti, com Rudson Santos nos vocais, eu na guitarra, Cintia Kenia no contra baixo e na bateria teve Ericson (minha preferência), Bogus (não botou fé na proposta, mas chegou a ensaiar, sempre muito focado na The Pivos, graças a Deus!) e Italo (se escalou, tocou muito no ensaio e convenceu o resto da banda, rs)! Com a Anita Malfatti, fiz minha segunda aparição com banda na abertura do último Atitude Rock Festival, que teve Garotos Podres, depois desse show nosso ancora e principal compositor Rudson Santos, pediu contas, ainda fizemos um show com a Anita em Salvador, perto do barradão, onde eu assumi os vocais e fizemos um show que foi até aplaudido pela galera, mas infelizmente foi o último.
Recentemente, tive mais uma experiência como líder de banda, na função de criação das músicas, tem que dar vazão as ideias, e daí surge mais um projeto paralelo que foi a oitava banda, A Casa Verde, gosto de cantar, saca?! A experiência com a Anita me fez lembrar que me sinto bem cantando, e aí foi eu na guitarra e vocal, Ruger no contra-baixo e Ericson na bateria; tivemos alguns contratempos e resolvemos parar para refletir, A Casa Verde está viva, porém em reforma.
Blog CR - Qual banda que você participou que te marcou, faz você sentir muito por não ter dado certo?
Marcelo Figueiredo - Gostei de todas, cada uma a seu tempo, mas com certeza a Distúrbio Eletrônico eu sinto muito por não ter dado certo, sinto falta até hoje dos ensaios e criações com Daniel Quirino, o cara é fera, a gente se entendia bem... E o Abbel e o Pêssego é outra que sinto falta, era uma loucura, com músicas que a galera curti até hoje, como girassóis e maçã do amor.
BLOG CR - Como você define o som da banda The Pivos? E quais as influências?
Marcelo Figueiredo - Definir a The Pivos?! Amálgama da verdadeira vontade de vencer, de se divertir e até enlouquecer, o som da The Pivos é muito influenciado pela onda punk inglesa de 1977, bandas de garage rock de 60, e também do ska, abordamos temas como relacionamentos, diversão e também sociais, podemos citar como influência da banda aí Richard Hell and the Voidoids, The Dictators, The Especials, Ramones, The Clash, The Fuzztones (talvez essa é a que melhor nos define).
BLOG CR - Sobre a The Pivos, sem falsa modéstia, vamos dizer que 3 em 5 pessoas que curtem rock in roll destacam a banda como uma das melhores, na sua opinião porque o som de vocês agrada o público?
Marcelo Figueiredo - Eu acredito muito na força e na sinceridade do que fazemos cara, a nossa cumplicidade não é de agora, acredito que amigo não é somente aquele que concorda com o que você diz, é sim aquele que discorda, questiona seu ponto de vista, mas acima de tudo há o respeito, é saber que eu respeito o seu ponto de vista, mas não tenho que segui-lo porque você acha isso, a The Pivos não surge do nada, estamos juntos a muito tempo, mais de dez anos tocando junto, desde a Estado de Sítio a base é a mesma, eu, Italo e Bógus, além do que nós fazemos um som direto, visceral, sem frescura e Italo é muito bom compondo cara, ele achou a verve dele, a guitarra do cara é fenomenal, tem influências mil, mas também tem originalidade, entende?! E Bogus?! Nasceu para tocar Punk Rock, eu vou apenas aprendendo com eles e no mais, amo tocar com esses caras. Resumindo, vontade, a palavra é vontade, é o princípio básico da magick, "o amor é a Lei, mas amor sob vontade", e isso sobra quando estamos no palco.
Blog CR - Quais os planos da banda pro futuro?
Marcelo Figueiredo - Estaremos lançado o nosso tão esperado EP agora no primeiro semestre de 2013, e a partir daí vamos planejar, tudo com base na disposição laboral de cada um, uma mini tour pelas principais capitais do Nordeste descendo a partir de Fortaleza, ainda não fomos por conta do material, convite não nos faltou, sinal de reconhecimento né?!
Blog CR - Você é uma pessoa que tem uma vivência na cena de Camaçari e já viu muitas bandas surgirem e infelizmente acabaram, quais das bandas antigas você senti falta hoje?
Marcelo Figueiredo - Sinto muita falta da Fábrica, Reni era um cara que Camaçari jamais poderia ter perdido, figuraça, pense aí de novo, Reni, Nivaldo, Danilo e Bógus, muito rock velho. Sinto falta também da Pernas Cabeluda, poderia ter dado certo, é um estilo que não temos tocando hoje, tinha a Ameaça também que era da Gleba E com uma pegada interessante e a Kamikase, Aline cantando dava show cara, o repertório era de ótima qualidade. Teve a MallaM também, os caras pegaram o bonde dos Pernas e fizeram sob a batuta de Eric, Samuel (Trompas de Falópio) Eudes e Binho uma banda de qualidade velho, músicas que se tocassem era sucesso garantido, mas sumiu na lama da MallaM, infelizmente. Sinto falta também do metal dos cara da gleba C e Gleba E, ali tem uns cara que tocam bem pra caralho!!
BLOG CM - Qual sua opinião sobre a cena de Camaçari e o nível das bandas?
Marcelo Figueiredo - Eu não penso rock como lance de nível, você pode não saber tocar nada como eu e agradar as pessoas, rock in roll é atitude, quer fazer bonitinho vai tocar ópera porra!! Eu penso que nós estamos passando por uma fase de transição, se eu estiver equivocado é uma pena, mas vejo como uma transição necessária e importante, ainda que pontual, quando eu vejo bandas como a Código em Sigilo, Latryna, Ultrasônica, Simetria Inexata, Riverman, Pretexto, Diário Urbano por exemplo, eu me empolgo, porque é gente nova chegando, oxigenando e a cena precisa disso, senão ficaremos a mercê de rebaixe fest, forró das antiga, sambinha filho da puta, odeio. Olhe o que aconteceu em Dias Dávila.... A Declinium veio de lá, ainda tem a Venice com Zé Raimundo, com letras lindas, tinha a banda de Nano, que tocava demais uns covers do Alice in Chains, chegaram a tocar até no Atitude Rock Festival no dia do Dois Sapos e Meio, e agora a cena de Dias D'ávila morreu, pior para todos nós. Olhe que proporcionalmente Dias D'ávila tem bem mais gente fazendo rock do que Camaçari, pode ter certeza disso, afirmo porque estou vivendo lá e vejo isso, mas a cena morreu por que não houve renovação e não podemos deixar que isso aconteça aqui !!
Blog CR - Além da The Pivos, você tem algum projeto em andamento, ou em mente para o futuro, ou está só se dedicando a banda em que está atualmente?
Marcelo Figueiredo - Dedicação quase que exclusiva para The Pivos, mas estou ensaiando também com um projeto chamado de Telestar, com Priscila, Zé Raimundo e Hélio Schefer em Dias D'ávila, planejando também um registro da Abbel e o Pêssego para o primeiro semestre de 2013, além de compor sem regularidade para A Casa Verde, estamos apenas em reforma, ainda não acabou.
Blog CR - Geralmente pedimos para o entrevistado falar três bandas que mais curti da cidade, mas desta vez queremos saber quais as três bandas e que justifique a sua escolha.
Marcelo Figueiredo - Declinium, pela qualidade musical dos caras e a genialidade de Oreah. Ladrões Engravatados por todo o suporte que Guerra nos forneceu no início da The Pivos, ele é um cara que merece tudo o que conquistou e vai conquistar com sua banda porque no que puder ajudar ele ajuda mesmo sem olhar a quem e a Venice, porque Zé Raimundo é um cara muito talentoso, que soube se reconstruir quando saiu da Declinium, formou a Venice e tem já músicas espetaculares, eu adoraria cantar na Venice, são músicas lindas e muito bem escritas.
Blog CR - Saindo um pouco do rock local, vamos para uma esfera maior, diz aí quais são seus ídolos no rock?
Marcelo Figueiredo - Meus ídolos no rock?! Só existe um ídolo para mim que é James Douglas Morisson, estou no rock porque ouvi na casa de Gabriel ele cantando, pirei total, no mesmo instante esqueci do Chiclete com Banana. Mas antes do Jim, já me enxergava Raul Seixas também, o cara era um bruxão mesmo e para citar um vivo tem o Sir Mick Jagger, O CARA É FODA .
Blog CR - Chegando ao fim da entrevista, o Blog Camaçari Rock agradece a sua colaboração, agora deixe uma mensagem final para nossos leitores.
Marcelo Figueiredo - Mensagem final?! Vão estudar, porque o rock in roll me mostrou que sem educação e sem cultura nós estaremos fadados a contemplar a vida dos outros projetando as nossas desilusões como se fossem as únicas, ocupem suas mentes com algo produtivo e me esqueçam.! " O amor é a lei, mas amor sob vontade" 93 93/93.
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